Cultura

Da Vinci e o falso Miguel Ângelo no museu da FBAUP
Publicado: 11.04.2005

O museu da FBAUP tem dois desenhos mais famosos que os outros: um porser de da Vinci, outro por não ser de Miguel Ângelo.

Calcula-se que a colecção de desenhos, pinturas, esculturas e gravurasdo museu da Faculdade de Belas-Artes do Porto ande à volta dos seismil exemplares. No entanto, há dois que, ao longo dos tempos, se foramtornando mais conhecidos. E não foi apenas por estarem supostamenteligados a dois nomes sonantes da arte renascentista.

O verdadeiro da VinciDe facto, o desenho de Leonardo da Vinci presente na colecção do museuda FBAUP nem sempre lhe foi atribuído. Até aos anos sessenta, nãohavia a certeza de que o desenho pertencesse mesmo ao autor daGioconda. A sua autoria era mesmo atribuída a um autor muito menosconhecido. Segundo Lúcia Matos, directora do museu, "nem se sabe bemcomo foi lá parar" a gravura. Eduardo Batarda, pintor e professor nafaculdade de Belas-Artes, diz-nos que o referido desenho "fez parte decolecções prestigiadas". Desconhece-se, no entanto, a sua origem.Durante algum tempo, discutiu-se a autoria da obra, mas os estudiosos"baseavam-se no olho e na memória", o que fazia com que os enganosfossem frequentes. Foi um especialista do British Museum, PhilipPouncey, quem acabou por decifrar o mistério, mostrando, sem sombra dedúvida, que aquele desenho era mesmo de Leonardo da Vinci.

O outro caso mediático passou-se com um desenho que algumas pessoasquiseram atribuir a Miguel Ângelo. Segundo Eduardo Batarda, a obravinha assinada por um "Michelle Ângelo", numa grafia diferente daqueleem que se escreve o nome do pintor em italiano, "Michelangelo". Apesardisso, o boato persistia e o nome de Miguel Ângelo como autor dodesenho chegou mesmo a constar de folhetos referentes a exposições da FBAUP.

Após anos de estudos intensos, Eduardo Batarda pôde finalmente, já emfinais da década de noventa, comprovar que a autoria da gravura nãopertencia realmente a Miguel Ângelo. Segundo Lúcia Matos, "qualqueruma das pessoas com um mínimo de conhecimentos olhava para o desenho edizia que não era da autoria do pintor italiano". No entanto, durantemuitos anos, procurou-se alimentar esse mito. Eduardo Batarda põe ahipótese de se ter tentado fazer passar a ideia de que "se estavasentado em cima de uma fortuna".O professor da FBAUP refere como possível causa para as confusõesassociadas às duas gravuras referidas, o facto de ser "relativamentefácil falsificar os carimbos que registam o percurso dos desenhos". Asobras podem ser vistas no catálogo "Desenhos de Mestres em colecçõesportuguesas", que pode ser consultado na biblioteca da Faculdade deBelas-Artes.

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